Debaixodosceus.pt e Amazon.com: Uma parceria de sucesso
2017 Publicação "Daquele Além Marão"
2020 Foi criada a nova imagem
2017 Apresentação na Casa dos Transmontanos do Porto
2022, Pela primeira vez, publicação em capa dura além de capa mole
2017 Apresentação na Confeitaria Luso-brasileira
2020 Publicação "Entre o Preto e o Branco"
2017 Apresentação no CITICA de Daqueles Além Marão
2016 Apresentação no CITICA de "Lágrimas no Rio"
2016 Publicação de Lágrimas no Rio
2016 Apresentação no ISLA de "Lágrimas no Rio"
2015 "Terras de Xisto" - A primeira publicação
2022 Publicação de "A Caixa do Mal"
2022 Devido ao seu sucesso, "Lágrimas no Rio" tem 2ª edição
2022 Publicação "Na Sombra da Mentira"
2022 Publicação "Depois das Velas se Apagarem"

sábado, 6 de janeiro de 2018

Na Pele do Lobo no Correio do Porto

NA PELE DO LOBO

Começou no dia 6 de Janeiro de 2018, a publicação de um dos meus contos, completamente inédito, no site do "Correio do Porto", com o qual colaboro frequentemente. O Correio do Porto é uma revista digital independente do Porto (PT) e sobre o Porto (distrito). Conta histórias de vida (pessoas e coisas) de um mundo à parte (físico e noticioso). Divulga notícias do outro mundo quando falarem do Porto. O Correio do Porto foi concebido para utilizadores com muitas horas de leitura (livros, revistas, jornais, banda desenhada, cartoons, postais, selos, cartazes, folhetos, catálogos, etc). É a geração do papel a navegar no mar digital. 


Esta história foi dividida em 5 episódios, publicados a cada sábado até ao dia 3 de Fevereiro, data da publicação do último fascículo.


A história passa-se num imaginário mosteiro medieval, isolado nas montanhas, que se vê a  enfrentar uma perigosa doença.


Apesar de toda a trama ser imaginada, assim como o próprio mosteiro, São Bento de Asnes, o ambiente foi imaginado com base no mosteiro de Pitões das Junias, na serra do Gerês.


Não deixe de ler esta empolgante e tenebrosa história. 


Para ler os episódios através da publicação no Correio do Porto, clique na imagem abaixo e acederá a uma página com as ligações para os capítulos.



Mas pode ler também aqui no meu blogue, clicando em cada uma das imagens abaixo.

Parte I - Sonâmbulo
Parte I - Sonâmbulo
Parte II - A Missão
Parte III - Viagem Interminável

Parte IV - São Cristóvão da Chã

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Na Pele do Lobo - Parte I



SONÂMBULO


Frei João acordou sobressaltado, com os olhos arregalados na escuridão. O suor frio escorria-lhe da testa e gelava-lhe as costas, correndo em grossas gotas ao longo da coluna.
Estava deitado no chão, de bruços e isso era tudo o que conseguia perceber. Atabalhoadamente, tateou em volta para descobrir onde estava. O silêncio era absoluto no interior do mosteiro de São Bento de Asnes, aliás como sempre. A única coisa que perturbara o sossego, fora o mesmo barulho que o despertara para a consciência que se encontrava no chão.
Ergueu-se sobre os joelhos, com dificuldade e encontrou os cobertores do catre, logo à frente. Estava na sua cela, portanto… pelo menos parecia.
Bateram timidamente na porta.
Irmão João? — Uma vozinha atemorizada e abafada fez-se ouvir. — Está tudo bem? Ouvi um grande barulho.
Uma trémula luminária trouxe alguma claridade ao cubículo, à medida que a grossa porta de madeira era empurrada para dar entrada a um homem baixo e gordo, de olhar assustado, empunhando um toco de vela.
O Senhor seja louvado, irmão Felix! — Congratulou-se frei João, ainda de joelhos, com a luz que a chegada do companheiro lhe trouxe. — Não sei o que aconteceu, acho que caí da cama. Estava para aqui deitado no chão.
O próprio João, era um pouco gordo, mas de uma estatura mais elevada que o seu vizinho, de quem aceitou o braço para acabar de se erguer.
A exígua cela era apenas composta pelo catre, um banco que fazia as vezes de mesa de cabeceira, um balde para as necessidades e uma mesa onde pouco mais do que um livro cabia. Na parede da cabeceira da cama, um Cristo numa agonia atroz, dominava todo o espaço, lembrando o sofrimento d’Ele. Dois tocos de vela. Apagados, jaziam no chão, logo ao lado do banco que caíra sobre o balde e espalhara o fétido conteúdo no chão. Um cheiro a fezes e urina empestava o ar.
Valha-me a misericórdia divina. — Lamentou-se João, assim que o olhar descaiu sobre os dejetos. — Olha que porcaria aqui está! Trouxe o balde para cá porque me sentia adoentado, temia não conseguir chegar às latrinas e vejam lá...
Credo em Cruz, irmão! — Benzeu-se o outro. — Estais com um grave problema, para que vos saiam tais miasmas das entranhas! Devíeis falar com o frei David.
Envergonhado, João aceitou ajuda para acender as velas, mas recusou-a para limpar e despediu o companheiro alegando que ele o faria sem dificuldades. Félix acabou por acatar a decisão do vizinho, mas, antes de regressar à sua cela, lembrou  que faltavam menos de duas horas para as laudes matutinas (primeiras orações da manhã).
De novo sozinho, depois de uns segundos de reflexão, abandonou a cela para ir buscar o necessário para a limpeza. Deixou uma vela acesa e levou outra consigo.
Sentia-se algo confuso, o ambiente parecia-lhe irreal e o ar espesso, que respirava com dificuldade. A transpiração gelava-o e provocava-lhe arrepios, mas sentia os lábios e as mãos anormalmente quentes… devia estar a incubar uma febre, o que não era nada bom. Da última vez que estivera doente, o frei David por pouco não o matou com as suas mezinhas. Benzeu-se com a recordação.
Nos corredores nus e silenciosos (e felizmente sem viv’alma) reinava uma penumbra pesada, quase escuridão, onde ecoavam os passos secos das suas sandálias. As portas das celas encontravam-se invariavelmente fechadas, o inverno estava frio e todo o mosteiro dormia ainda.
Ao passar num dos acessos ao claustro, a luz difusa do luar mostrava uma parte do chão, onde se viam, claramente, pegadas marcadas a lama no granito do chão mais ou menos imaculado. Surpreendido, aproximou a vela para verificar a direção das pegadas. “Quem teria feito isto?” — Perguntou-se, incrédulo. — “O abade Mateus não permitiria que se deitassem com o chão naquele estado!”
As “patinhadas” seguiam na direção contrária de onde ele provinha e resolveu segui-las, para ver quem fora o descuidado que fizera tal serviço. Os seus olhos arregalaram-se de espanto e pavor: as suas sandálias estavam cheias de lama e estava a deixar um segundo trilho de pegadas por onde passara. Aquilo não podia ser! Não se lembrava de calçar as sandálias, logo, já as tinha e de certeza que não estava a dormir com elas! Benzeu-se nervosamente, não tinha ideia de ter saído, nem sequer de se ter levantado, que se passava com ele?
Correu e foi buscar a vassoura, um balde de madeira e uns trapos, começando por limpar as sandálias e depois o chão, corredor fora, mas apenas desde o local onde se encontrava até à sua cela, não havia tempo para mais. Não queria ser surpreendido por nenhum dos irmãos, para que não lhe fizessem perguntas para as quais não tinha respostas.
À chegada à cela, conseguiu ver que Félix o observava do umbral do próprio compartimento. Fez-lhe um gesto de silêncio e ele recolheu-se sem uma palavra.
Limpou afincadamente o chão e encheu o balde com trapos sujos e malcheirosos que se apressou a fazer desaparecer pelos buracos das latrinas. Em seguida lavou-o  e repo-lo no seu lugar. Apenas se cruzou com dois dos irmãos que se levantavam mais cedo.
A higiene do corpo não era uma prioridade para os beneditinos; mudavam de túnicas interiores e hábitos com frequência, mas os banhos rotineiros, exceto para os doentes, eram desaconselhados. No entanto, no que tocava ao asseio de todo o mosteiro, o abade Mateus era implacável com quem prevaricasse: normalmente mandava-os fechar em celas com o flagelo (pequeno chicote de com pontas metálicas) para que se açoitassem como penitência, se o não fizessem, ou empregassem pouca convicção, iria alguém à cela para o fazer ao penitente. O próprio João já sentira na pele as mordeduras que chegavam ao osso e, se pudesse, não passaria por aquilo novamente.
Deitou-se e cobriu-se com o cobertor sem lençois, pois eram um luxo a que os monges não se podiam dar. Estava completamente esgotado e começou a pensar na sua situação que estava a ficar muito complicada. Olhou a mão esquerda, completamente roxa, onde um semicírculo de dentes humanos estava profundamente marcado entre o polegar e o indicador. Havia sangue seco em algumas das marcas… o frio que sentia e a cabeça a andar à volta, devia estar relacionado com aquilo… apanhara alguma moléstia naquela dentada, no seu estranho encontro do dia anterior.

*** *** ***

Na manhã de ontem, invariavelmente, andava a tirar as ervas daninhas e a compor os regos da horta, enquanto ia apanhando para uma cesta alguns tomates maduros. São poucos os monges que têm tarefas específicas, a regra de São Bento manda que todos façam e ajudem em tudo, mas, por uma questão prática, é bom que haja alguns “especialistas” que vão estar mais atentos às necessidades das suas funções, para que as não encararem como uma tarefa rotativa onde pode deixar os problemas para serem solucionados pelo que vier a seguir. A regra mandava também que os mosteiros fossem o mais autosuficientes possível e isso fazia com que houvessem oficinas, enfermarias, serviços de limpeza, pastorícia, cada destes serviços com um ou mais especialistas responsáveis.  Ele cuidava das hortas, todos quantos viessem ajudar nas tarefas, estavam sujeitos à sua autoridade… sentia orgulho nisso e o orgulho é um pecado. Terá de falar nele ao confessor e acatar a penitência que ele lhe indicar.
Estava então afastado dos companheiros, próximo de uma secção da muralha que ruíra há uns anos atrás e ninguém mandara reparar. Escolhia os melhores tomates, entre as filas de tomateiros “de estaca” que se erguiam a quase dois metros de altura, quando se apercebeu de alguém, ou algo, que se esgueirou do meio dos tomateiros para os feijoeiros. O restolho das folhas denunciava o intruso.
Desconfiado que se tratava de um dos rapazolas da aldeia vizinha, a roubar uns legumes, avançou, decidido a dar-lhe uma reprimenda… ou um chuto nos fundilhos. Assim que afastou a folhagem bruscamente, ficou estático de estupefação: um rosto feminino, belo, mas sujo, emoldurado por uma cabeleira negra, desgrenhada e cheia de folhas, fitava-o com olhos pequenos e assustados.
Estava a contar com um petiz traquina, que largaria a fugir assim que o visse, não uma visão daquelas.
Alarmada, a intrusa soergueu-se, permitindo a visão de praticamente todo o seu corpo nu. Os pequenos seios pendentes, com os mamilos eretos  e o triângulo hirsuto do ventre, funcionaram como um soco no frade.
O Senhor seja louvado! — Exclamou João, antes de se  benzer, tapar os olhos e corrigir rapidamente: — Que o bom Jesus nos proteja das tentações dos demónios!
Tornou a espreitar por entre os dedos; a rapariga continuava ali, atrás dela erguia-se o muro que a impedia de fugir e à frente estava o volumoso monge. Estava bastante suja, devia andar perdida há muito tempo, ou não tinha o juízo todo e fora abandonada pelos familiares. De todo em todo, era bonita e bem feita.
Minha filha! — Frei João recuperou, abrindo os braços e avançando. — Que se passou contigo? Vem a mim que te ajudo. Deixa que este servo do Senhor cuide de ti.
O rosnar típico de um animal selvagem fê-lo hesitar.
Não tenhas medo, que não te faço mal! — Insistiu o frade, quase tocando-lhe com uma das mãos.
Inesperadamente, rosnando como um cão, a rapariga projetou-se de um salto e cravou os dentes com toda a força na mão que ele tinha mais próxima. Ferrou-lhe uma dentada entre o polegar e o indicador e começou a puxar e a abanar a cabeça. O pobre frade gritava desesperadamente enquanto tentava libertar-se da dolorosa mordida e foi apenas quando deixou de puxar e começou a bater, sem qualquer pudor, na cabeça da rapariga, que esta largou a sua presa. Fez estalar os dentes próximo do rosto aterrorizado do homem e depois saltou literalmente por cima dele e desapareceu pela parte derrubada da muralha, para fora do mosteiro.
Quando os restantes irmãos acorreram, alarmados pelos gritos de João, este reconsiderava no que tinha visto. Como poderia explicar que vira uma mulher nua no meio da horta? E que explicação daria para o facto de a ter tentado agarrar? Na melhor das hipóteses, pensariam que estava a enlouquecer e a ter visões, na pior, que tinha tido pensamentos impuros com um demónio dos infernos e… o abade Mateus dar-lhe-ia uma penitência duríssima, tipo mergulhar nas águas geladas da ribeira todos os dias, durante uma semana… e jejum… não aguentaria mais jejum.
Às perguntas assustadas dos monges, respondeu que se assustara com um grande cão, que tomara por um lobo, mas que fugira alarmado com os seus gritos… atrás das costas, manteve a mão ferida, que latejava. Assim que todos regressaram aos seus trabalhos, ele ainda foi espreitar por cima do muro. Se fechasse os olhos, conseguia ainda rever aquele corpo firme e pecaminoso.

*** *** ***

Sempre fora cumpridor das suas obrigações… pelo menos das mais importantes, mas agora, no espaço de dois dias, estava a omitir várias coisas, a mentir, pois é praticamente o mesmo, para fugir ao castigo, quer dizer, penitência. Cada hora que passava, a trama adensava-se mais e surgiam umas mentiras para ocultar outras.


** Fim da 1ª parte **
** A seguir, em 13 de Janeiro: "A Missão" **

Introdução
Parte II - A Missão
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domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal 2017

 


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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Nova entrevista na revista Divulga Escritor




Depois de no passado mês Junho a revista Divulga Escritor me ter dado a honra de exibir o meu livro "Daqueles Além Marão" na sua rubrica Livros em Foco, eis que chega a vez da publicação da entrevista no lançamento do número 31, respeitante a Dezembro.

Aqui vai uma pequena apresentação deste fantástico projeto, que tem como objetivo a divulgação de novos escritores, nas palavras dos próprios:
O projeto Divulga Escritor foi criado em 26 de março de 2013 pela  jornalista, radialista, escritora e editora  Shirley M. Cavalcante (SMC). (...)
Divulga Escritor tem como objetivo buscar ferramentas que promovam a  divulgação de escritores, independentemente de onde tenham publicado seus livros, ou até mesmo daqueles que não tenham livros publicados, mas que gostam e se dedicam a escrita.
O projeto, hoje, realiza entrevista com todos os escritores e divulga em diferentes sites, blogs, grupos, página no Facebook... ou seja, em diferentes mídias sociais.(...)


Assim, à semelhança do que foi feito no passado com Terras de Xisto e Outras Histórias e Lágrimas no Rio, aqui segue a entrevista feita com base no lançamento de mais uma obra de minha autoria.



Nota importante: o visualizador desta revista mostra a imagem muito pequena e quase ilegível, para poder ver em tamanho normal siga o procedimento abaixo:


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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Contador de Histórias

"Nunca contes uma história por ela ser real; conta-a porque é uma boa história"
John Pentland Mahaffy
Na época clássica, os Gregos diziam que havia pequenos seres (demónios) que traziam a inspiração e faziam com que pessoas aparentemente normais, produzissem obras extraordinárias que provocavam o deleite dos demais. No tempo dos Romanos, as coisas não variavam muito e os demónios tinham-se transformado em pequenos génios que habitavam as paredes das casas e que segredavam a inspiração aos autores... A ser assim, imagine-se a sorte que Eça de Queiroz ou Antero de Quental,, apenas para nomear dois, tiveram com a escolha das casas. O próprio Camilo, teve a “extraordinária fortuna” de calhar numa cela fervilhando desses seres em plena cadeia da Relação do Porto!
Claro que com o Humanismo, passou-se a atribuir as "culpas" ao próprio escritor, ao dom que trazia consigo e que desenvolvia ao longo dos tempos. Veja-se o peso da responsabilidade para o autor a partir dessa altura.
Aqueles que, como eu, gostam de se intitular de “Contadores de Histórias", deveriam de se sentir aterrorizados com a ideia do que as outras pessoas vão pensar de nós: quando lerem uma história sobre um drogado, vão achar que é experiência própria, quando falarmos de violência doméstica, julgarão que somos vítima, ou agressor, quando escrevermos sobre perversões ou desvios sexuais…
Estão a ver o problema não é?
A verdade é que o processo do contador de histórias, apesar de ter muito da nossa própria experiência, na maior das vezes, parte do ponto de vista do observador e se é do participante, apenas em situações completamente extrapoladas… de outra forma não seria uma história, mas um diário.
O processo que envolve o nascimento de uma história, não tem um plano, nem um procedimento pré estabelecido que indique que primeiro vem o “A” e depois o “B” e por aí além. Isso é organização,  e essa vem depois da ideia formada. Primeiro junta-se, depois sim, organiza-se.
A história pode surgir na nossa cabeça, como algo saído das brumas que, quando nos apercebemos, já lá estava, insinuando-se, como os tais bichinhos da parede, não confundir com bichos de conta, baratas e outros afins. Outras vezes, é como um flash que nos encandeia após uma frase duma conversa, ou duma discussão… que até pode nem ser connosco. Outras ainda, chega ao nosso coração flutuando nas notas de uma música, ou entre as estrofes de uma canção.
Os personagens dessas histórias, são amigos que vamos encontrando, escondidos atrás de um verso sentido, no olhar vazio da mulher de olhos tristes na paragem do autocarro, ou no homem sujo e desgrenhado que dorme no umbral da porta.
Quando tal criatura nasce, sim porque é algo que começa a viver e pulsa, é praticamente impossível ignora-la e os seus personagens, que entretanto fomos achando, aparecem e interagem uns com os outros continuamente, quando estamos a trabalhar, a ver televisão, ou mesmo a tentar dormir. Não se consegue evitar e então, sentado frente ao computador, ou nas notas do telemóvel, os rabiscos do carácter dos personagens começa a tomar forma junto com o exoesqueleto da nova narrativa.
Durante horas, dias ou meses, conversamos com esses personagens que nos contam as suas histórias e tornam-se nossos amigos. Entrelaçam os seus sonhos nos nossos, com novelos de fofo algodão. Com eles rimos das peripécias engraçadas e com eles choramos as injustiças de que foram alvo, ou as perdas que sofreram, enquanto vamos coligindo todos os dados, toda a trama.
No fim, aconchegámos-los carinhosamente nas páginas brancas de um livro e com uma sensação de saudade, arrumámos-lo zelosamente na prateleira de uma estante, mesmo ao lado de centenas de outros amigos, trazidos à vida e à memória por outros tão ou mais loucos que eu.
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sábado, 25 de novembro de 2017

Daqueles Além Marão na Casa Regional dos Transmontanos



No passado dia 25 de Novembro decorreu a última apresentação de 2017 do livro "Daqueles Além Marão" e aconteceu, nada mais, nada menos que numa das casas mais emblemáticas para os transmontanos na cidade do Porto: A Casa Regional dos Transmontanos e Alto durienses do Porto.
Esta associação tem, nos seus objectivos:

"Promover Trás-os-Montes e Alto Douro

A associação tem fins bem definidos, que assentam essencialmente, em "propagar,
defender e valorizar Trás-os-Montes e Alto Douro em toda a sua dimensão humana, social e territorial".

A actividade da casa desdobra-se entre duas vertentes: a primeira visa uma
componente de prestação de bons serviços, ou seja, disponibilizar os seus espaços e colaborar com as instituições e associações regionais, para que possam desenvolver actividades na casa e também ajudar na divulgação de eventos que permitem a valorização da região. A segunda passa por proporcionar momentos de lazer e diversão aos seus associados, de forma a manter vivas as raízes que os ligam, organizando festas gastronómicas e de diversão, conferências, debates e proporcionando o convívio entre conterrâneos.

Desde sempre, a Casa Regional dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto tem
procurado promover iniciativas que visam a divulgação da região, da sua gente e dos seus produtos tradicionais.

Um outro objectivo é o de dar voz e projecção a todos os escritores, artistas e demais Autores e Criadores transmontanos e durienses. Nesse sentido, tem ajudado na divulgação de vários trabalhos desenvolvidos por pessoas oriundas da região ou que sobre ela se debruçam."



Foi uma grande responsabilidade, ir a este "quartel general" dos transmontanos apresentar um livro que conta histórias ficcionadas envolvendo personagens daquela região, mas enchemo-nos de coragem (tenho uma fantástica equipa de familiares e amigos que me apoiam) e lá fomos nós.


A sala que nos foi cedida era, como o resto do edifício, repleta de história e respirava o puro ar transmontano, através das fotos expostas em seu redor.


Neste dia tive a grata surpresa de ter não um mas dois músicos! Os meus amigos Miguel Caldas e o Eduardo Sousa vieram animar um pouco a apresentação desta obra e fizeram um trabalho extraordinário.


A minha sobrinha Beatriz e a Joana, filha do músico Eduardo, deram uma espectáculo impressionante. A voz da minha sobrinha não pára de me surpreender e o acompanhamento desta sua amiga deu-lhe apoio e ainda mais brilho.


Até algumas pessoas que não estavam presentes na sala para assistir à apresentação foram atraídas pela atuação das duas jovens e ficaram a assistir.


Não podia faltar a imprescindível presença do meu irmão Luís que não permite que eu me aventure nestas "andanças" sozinho e vem sempre trazer umas palavras divertidas de introdução. Pela parte da Casa dos Transmontanos e na ausência  do seu presidente António Moreno, por motivos de força maior, esteve o não menos simpático e eloquente, Urbano Azevedo. A sua presença simpática e bem disposta foi uma mais valia importante nesta apresentação. 



Não foi uma das minhas apresentações mais frequentadas mas mesmo assim, foi uma plateia atenta e colaborante que assistiu até ao fim (heroicamente?).


Após a usual sessão de autógrafos e distribuição de livros aos meus novos amigos (cada leitor é um novo amigo, claro) houve um pequeno período de convívio e degustação de vinho generoso duriense (mais conhecido por Vinho do Porto) acompanhado de doces.





A minha esposa Delmina foi, como habitual, a fotógrafa oficial do evento, além de organizadora e colaboradora ativa. (Nota mental para lhe aumentar o ordenado que ganha nestas ações).


Aqui uma foto com dois dos meus grandes amigos e entusiastas neste percurso das letras, a escritora Suzete Fraga e o escritor e editor Isidro Sousa da editora SuiGeneris, que gradualmente vem lançando no mercado novas obras de autores lusófonos. 


Neste outra foto, da esquerda para a direita, minha cunhada Susana e o meu irmão Luís, a quem muito devo no carinho e apoio incondicional ao meu trabalho e às suas apresentações. O escritor e editor Isidro Sousa, que já começa a ser presença habitual e o Eduardo Sousa e a filha Joana que emprestaram uma grande parte do brilho deste evento. 


No fim desta nova apresentação, o prazer da sensação de um bom trabalho e o fim de mais um dia feliz.


A última apresentação de "Daqueles Além Marão" em 2017 correu muito bem.



Um agradecimento muito grande à Casa Regional dos Transmontanos e Alto Durienses no Porto por nos receber nas suas instalações e também ao seu presidente António Moreno e ao seu digno representante Urbano Azevedo.

Bem hajam pelo trabalho que fazem em prol da cultura transmontana e não só.

Até à próxima.




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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Apenas Mais Um Dia Sem Ti



Caminhei até à borda do penhasco e contemplei o rio. O lençol largo e sereno, manipulado pelo Homem, substituiu o pequeno rio que saltava nervosamente sobre as pedras no verão e crescia desmesuradamente, engolindo furiosamente paredes e taludes, no inverno.
Ali está a paisagem que me leva paz à alma e reforço ao ânimo; aquelas paredes de xisto, que enxameiam as encostas, erguidas à força de braço e sustidas com o suor do rosto de incontáveis gerações.

Como é possível não amar tal obra? Como é possível ficar indiferente ao sussurro dos pinheiros que falam do alto das cristas indómitas? Como é possível não se admirar a obra do Grande Arquiteto da Criação… mesmo que Ele nos vá levando aqueles que tanta saudade deixam.

Com os olhos fechados, também o vento me fala e conta histórias de outras eras, das gentes esquecidas que mourejaram nestes montes e atravessaram este rio. Nas memórias trazidas à superfície, é impossível não pensar em ti, que como eu amavas esta terra, apesar de não ser tua.

No fim, quando é que uma terra é nossa? Apenas quando nascemos nela? Não! A terra pode ser nossa, como pode ser nossa uma mulher, apenas porque recebe o nosso amor e dá-se sem reservas. Assim é esta terra que, não sendo “nossa”, é uma das nossas amadas.
E eu encho a alma e deixo inebriar os sentidos, neste outono que parece verão, com o chilrear dos pássaros, o sussurro do vento e o cheiro a pinho e ao fumo das fogueiras que dissipam as vides podadas. Gradualmente a calma regressa e a respiração retoma o ritmo normal.

Podemos viver para sempre numa paisagem destas e eu sei que tu vives. Sei que continuas em cada brisa que beija estes montes, que falas em cada murmúrio dos pinhais.
Sei que o teu amor por esta terra não te poderia levar para muito longe desta região, por isso a tua memória é tão forte quando estou por aqui.
Consciente disso, revigorado, solto um longo suspiro e tomo o caminho de regresso, para mais um dia sem ti.
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