No meu egoísmo, pensei que eras eterno.
Eterno, como as rochas que enfrentam o mar, dia após dia e não cedem terreno, apesar de não vencerem. Eterno, como as grandes montanhas que, escavadas por rios e mineiros, erguem-se imponentes desafiando as neves e os
ventos.
Afinal, eras apenas como um grande castelo, erguido à força
de braços e resistindo por décadas e décadas… até que os seus muros, construídos
para resistir à força bruta dos bárbaros invasores, começa a derruir, pedra após pedra, cedendo aos elementos e ao tempo. Por fim,
já pouco mais eras que uma pequena cerca, apoiada em fortes, mas soterrados,
alicerces. Mas era aí que eu recorria, conhecedor da força das tuas bases,
a aprender o conhecimento da tua estrutura e desejando um dia vir a ser metade
do homem que eras, ter pelo menos metade da tua força.
Mas no meu egoísmo, cuidei que estarias sempre ali para mim.
Para me falares na tua voz calma e ponderada, embora poderosa. Darias um
excelente orador, se a tua educação de gente humilde, de quem viveu na
escravidão dos ricos, não te fizesse tão discreto e receoso de protagonismo. Os
anos ensinaram-te as virtudes da invisibilidade e evitar a atenção da inveja e
do mal. Quando erguemos uma torre acima da cabeça dos demais, haverá sempre
alguém para tentar derrubar, apenas poque não é capaz de a igualar, quanto
mais fazer melhor.
No meu egoísmo, achava que serias sempre o meu porto de
abrigo, aquele a quem falava dos meus eventos e dos meus projetos, que escutava
e debatia, como sabias debater a maior parte dos assuntos. Eram os frutos da
bagagem dos anos e da tua fome de saber, que te levou a devorar tomos e tomos,
que guardavas ciosa e orgulhosamente.
Com um golpe no egoísmo, vi-te partir e deixar um enorme
vazio, que nunca poderá ser preenchido; antes evitado e escondido, nos recantos
da minha memória. Espaço que vou tapando com montes de outros tantos eventos,
bons e maus, que compõem a minha vida.
O sol nasce e as serras distantes tingem-se de tons
alaranjados. O céu, de um azul puro, tem apenas algumas nuvens dispersas, na
promessa de mais um belo dia de agosto. De mais um dia sem ti.