quarta-feira, 8 de novembro de 2017
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Apenas Mais Um Dia Sem Ti
Caminhei até à borda do penhasco e contemplei o rio. O lençol largo e sereno, manipulado pelo Homem, substituiu o pequeno rio que saltava nervosamente sobre as pedras no verão e crescia desmesuradamente, engolindo furiosamente paredes e taludes, no inverno.
Ali está a paisagem que me leva paz à alma e reforço ao ânimo; aquelas paredes de xisto, que enxameiam as encostas, erguidas à força de braço e sustidas com o suor do rosto de incontáveis gerações.
Como é possível não amar tal obra? Como é possível ficar indiferente ao sussurro dos pinheiros que falam do alto das cristas indómitas? Como é possível não se admirar a obra do Grande Arquiteto da Criação… mesmo que Ele nos vá levando aqueles que tanta saudade deixam.
Com os olhos fechados, também o vento me fala e conta histórias de outras eras, das gentes esquecidas que mourejaram nestes montes e atravessaram este rio. Nas memórias trazidas à superfície, é impossível não pensar em ti, que como eu amavas esta terra, apesar de não ser tua.
No fim, quando é que uma terra é nossa? Apenas quando nascemos nela? Não! A terra pode ser nossa, como pode ser nossa uma mulher, apenas porque recebe o nosso amor e dá-se sem reservas. Assim é esta terra que, não sendo “nossa”, é uma das nossas amadas.
E eu encho a alma e deixo inebriar os sentidos, neste outono que parece verão, com o chilrear dos pássaros, o sussurro do vento e o cheiro a pinho e ao fumo das fogueiras que dissipam as vides podadas. Gradualmente a calma regressa e a respiração retoma o ritmo normal.
Podemos viver para sempre numa paisagem destas e eu sei que tu vives. Sei que continuas em cada brisa que beija estes montes, que falas em cada murmúrio dos pinhais.
Sei que o teu amor por esta terra não te poderia levar para muito longe desta região, por isso a tua memória é tão forte quando estou por aqui.
Consciente disso, revigorado, solto um longo suspiro e tomo o caminho de regresso, para mais um dia sem ti.
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