Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
terça-feira, 2 de junho de 2015
Margarida
Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.
Sentada nos últimos lugares do autocarro, Margarida
encolheu-se quando o homem se sentou a seu lado.
Naqueles lugares apertados, é praticamente
impossível não tocar nas pessoas e eles estavam tão próximos que
ela conseguia sentir o cheiro da loção da barba. Corou ao sentir o
calor da perna dele em contacto com a sua através dos jeans coçados.
Mexeu-se, desconfortável, tentando afastar a perna
dele.
Pelo canto olho, espreitou-lhe o rosto moreno de
nariz largo e sobrancelhas hirsutas encimado pela cabeleira negra e
encaracolada. O olhar parecia preso lá longe, na parte dianteira do
veículo.
Queria ver-lhe os olhos, mas não se atrevia a
voltar-se e olha-lo diretamente. Os olhos sempre foram aquilo que
mais a atraía nos homens...
Não que esse fato adiantasse para alguma coisa;
tinha vinte e dois anos e apenas teve um namorado. Se se pode chamar
namoro ao que ela e o "pau de virar tripas" do seu vizinho
pré adolescente fizeram durante dois anos... onde nem um beijo na
boca aconteceu.
Com o coração a bater apressadamente, pegou o
telemóvel e, simulando estar a escrever uma mensagem, inclinou o
vidro do aparelho de forma a apanhar por reflexão o rosto do
companheiro de viagem. Apreciou-o demoradamente e tentou fixar-lhe os
olhos... que repentinamente a focaram através do reflexo.
Surpreendida e atrapalhada, quase deixou cair o
equipamento. Virou rapidamente o mostrador para o chão enquanto se
esforçava por regularizar a respiração entrecortada e acalmar o
rosto que abrasava.
“Bem feita.” Censurava-se. “Sempre se deixara
ficar quieta no seu canto, que lhe dera para fazer aquela fita?”
Apertou as mãos nos ferros do banco da frente e
fechou os olhos com força inclinando a cabeça para baixo. “Será
que esta aflição é um ataque cardíaco? Não sou muito nova para
isso?”
Assim que começou a acalmar-se, puxou a cabeça
ligeiramente para trás e inspirou fundo. Abriu os olhos e aquele
rosto moreno, de olhos como carvões incandescentes, fitava-a num
misto de preocupação e divertimento enquanto perguntava: "Está
a sentir-se bem?"
Margarida soltou um gritinho de susto e,
completamente atordoada, levantou-se abruptamente gemendo disconexa:
"Sim, estou bem. Estou bem, obrigada. Sim, é a minha paragem,
tenho que sair aqui, com licença."
Na atrapalhação quase cai sobre o passageiro e sai
a correr do transporte público... ainda não era naquele dia que
arranjaria um namorado.