quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Estás aí, mãe?


Maria Luísa Almeida Dias

1937 – 2021

Estás aí, mãe? Para lá dos sonhos, noutra dimensão? Estás aí? Nesse corpo vazio e imóvel?

Eu sei que não estás. Como sei que não és tu por trás da janela iluminada daquela divisão onde escreveste tantos poemas. Daquela mesma janela de onde me dizias “Está tudo bem!”, mesmo quando não estava tudo muito bem.

Já não habitas a casa onde me contavas as histórias da tua juventude e eu os frutos da minha imaginação, que redundavam em contos que lias e comentavas avidamente. Quanto tempo passamos, após a partida do pai, a ver as fotografias enquanto me explicavas quem eram aqueles já desaparecidos há muito nas brumas do esquecimento.

Estás aí, mãe? A esperar, de olhos brilhantes, aqueles poucos minutos por dia que eu te dispensava? Estás naquele velho sofá, mesmo ao lado de um outro vazio há tanto tempo, no qual nunca fui capaz de me sentar?

Já não estás lá. para eu entrar sem que me respondesses e te encontrasse sentada a dormir, sozinha na sala, com a televisão apagada. Tu que adoravas o pequeno ecrã, os livros e os teus poemas, estavas cada vez mais debilitada e desinteressada.

Estás aí, mãe? Trocaste enfim o andarilho pela cadeira de rodas e os teus pés já não obedecem. Consegues suster-te nas pernas sem que eu tenha de erguer em abraços que tantas vez me pediste?

Sei que não estás. Não ocupas mais esse corpo sofrido que já não conseguia suster o peso da alma. Que te afastavas lentamente, cada vez que, ausente de tudo e de todos, ficavas a olhar o vazio, atenta em algo que não conseguíamos ver.

Estás aí, mãe? Nessa calma falsa de respirar entrecortado, entorpecida pelas drogas que te dão para suportar os horríveis tratamentos? Nesse sono exausto pelo sofrimento, quase morte, espelhado no rosto cadavérico.

Perdoa-me mãe, que pedi a Deus que te poupasse e não sofresses mais e depois de tantos dias ausente, olhaste para mim e sorriste. Foram uns segundos apenas, uns ínfimos momentos com um pé no nosso mundo e outro na eternidade. Nesse momento, que me pareceu ter durado uma vida, os teus olhos diziam-me “Não faz mal, está tudo bem.”

Já não estás aí, mãe. Não foi surpresa para mim que voltasses para o teu mundo de ausência, nem o desfecho final, que aguardava há mais de uma semana…. era já esperado o fim do teu sofrimento e a partida para junto daquele que ainda hoje amas e de quem te custou tanto apartar.

Sei que não estás aqui, mãe. Descansa em paz.




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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Deusas, Fadas e Bruxas–Os Pentautores e os mitos

 


Os Pentautores continuam a sua imparável produção e, desta feita sem um dos seus membros fundadores Ana Paula Barbosa, mas com a fantástica convidada Lucinda Maria, lançam-se nas fronteiras dos mitos, da magia e dos milagres.

Ao longo de seis belos contos o imaginário captado e colado ao dia-a-dia, mostrando como o sobrenatural e o quotidiano podem andar de mãos dadas.

Não perca mais esta obra dos Pentautores.

As palavras da convidada Lucinda Maria:

“Deuses, fadas, bruxas” — o tema desta colectânea é, certamente, um tema de interesse e constituiu um exercício de criatividade. Tenho a certeza de que os Pentautores estiveram à altura desse passeio pelo mundo da fantasia.
Este tema é um convite à imaginação. Senão vejamos. Os deuses existiram ou existem? As fadas são reais ou imaginárias? As bruxas estão por aí, espreitando a ocasião para nos fazer mal?
Em princípio, a resposta a estas perguntas terá de ser negativa.
Houve deuses, sim, que foram estudados nas diversas mitologias, principalmente na greco-romana. As religiões politeístas adoravam vários deuses, ídolos que os próprios homens construíam, seguindo a sua ideia. Outras vezes, adoravam o sol, o fogo e outros elementos da natureza. As religiões monoteístas tinham um só Deus, mas nunca o viram e, por isso, representavam-no como entendiam. Ainda hoje é
assim.
As fadas são também seres mitológicos associados à beleza e ao bem. Segundo parece, o primeiro autor a mencionar estes belos seres com asas e varinhas de condão foi o escritor Pompónio Mela, um geógrafo do século I depois de Cristo. No geral, são usadas para acalmar e encantar as crianças, pois são simpáticas, mágicas e belas. Quem nunca ouviu falar da fada Sininho do Peter Pan?
As bruxas são o oposto. Mulheres feias, com nariz grande e cheias de verrugas, famosas pelas suas gargalhadas terríveis.
De chapéu alto, deslocavam-se pelo ar. Diziam que as bruxas voavam em vassouras à noite e principalmente em noites de lua cheia, que faziam feitiços e transformavam as pessoas em
animais e que eram más. Quem nunca ouviu falar das bruxas de Salém? Estas foram julgadas e executadas nos Estados Unidos.
Outras mulheres suspeitas de bruxaria caíam nas fogueiras da Inquisição. Exageros! Hoje em dia, é tudo mais suave e até se celebra o Dia das Bruxas (Halloween).
Como está provado que a leitura faz bem à saúde, leiam os Pentautores! Decerto, viverão bons momentos de entretenimento e aprendizagem.”

Os Pentautores

Carlos Arinto

Jorge Santos

Suzete Fraga

Manuel Amaro Mendonça

A convidada

Lucinda Maria

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