A vida é uma sucessão de
encontros e desencontros.
Como folhas soltas caídas num
ribeiro, corremos velozes, num frenesim que não é nosso, na corrente eterna.
Estas folhas, depois de um curto
voo, livres, são presas da correria desenfreada da torrente que corre para um e
outro rio até chegar ao mar.
Algumas folhas, perdem velocidade
e rumo e ficam-se pelas margens, encostadas, abandonadas, vendo as outras
passar em grande velocidade até se perderem na distância. Ficam-se até a
natureza fazer o seu papel e não restar memória do simples organismo que ali
ficou.
Há folhas que correm rápido, pelo
lado mais forte da corrente, fazendo curvas apertadas e saltando sobre os
seixos, preocupadas em chegar ao fim… mas sem saberem o QUE é o fim. Correm
ignorantes do destino mas conscientes que têm de lá chegar... Acabarão por
chegar mas sem saber que existiram.
Folhas que, sem se desviar,
navegam pelo lado mais lento da corrente, apreciando cada curva, dobrando cada
tronco caído, beijando até cada seixo do leito. Têm trajectos longos, contactam
muitas folhas e a sua marca em cada uma durará até que a ultima delas desapareça.
Outras, sem rumo, não percebem a
corrente nem os seus meandros e deixam-se vaguear em cada remoinho, prender em
cada ramo, perdidas do norte e do Objectivo… Estarão lá para sempre, são
aquelas que todos vemos mas não reconhecemos.
Durante o seu percurso, algumas folhas encontram-se,
tocam-se, para se soltarem no segundo seguinte e seguirem o seu caminho
separadas. Em corridas paralelas mas distantes.
Folhas há que colam-se não se soltando mais todo o percurso,
vivendo num eterno rodopiar uma em volta da outra numa valsa silenciosa.
Mas há folhas, que estando muitas vezes sozinhas, flutuam em
pequenos grupos que se vão tocando e revezando entre si sem ficarem presas… Nem
completamente livres.
E a corrente plena de folhas continuará a chilrear por entre
os seixos da planície até que a árvore, velha de anos, caia sob o seu próprio
peso e novos ramos de outras árvores soltem novas torrentes de folhas.
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