Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.
Exausto, foi com grande alívio, que o octogenário se deixou cair no banco de jardim, na entrada do parque. Aquelas caminhadas custavam-lhe cada vez mais e, pelos vistos, demoravam cada vez mais. Estava a começar a anoitecer. Fez um esforço para recordar a que horas saíra de casa, mas não se lembrava.
Deixou-se ficar um pouco a restaurar as energias… noutros tempos, achava ele que não há muito, faria todo aquele percurso a correr e quase sem transpirar, mas agora… como se pusera naquele estado?
Olhou com curiosidade os sapatos de quarto, empoeirados, como se os visse pela primeira vez; os seus pés estavam “gordos” e o calçado parecia querer rebentar. Não admira que estivesse cansado! A arrastar umas “patas” daquelas… Tinha que fazer um regime, pensou de si para si, recuperar a forma, só pode ser pelas banhas, olha só que “patas”, tornou.
Recostou-se e esticou preguiçosamente os braços pelas costas do banco, enquanto apreciava o trânsito barulhento e apressado.
O seu olhar fixou-se no enorme edifício na esquina. Não se recordava de ter sido derrubada a padaria e já lá estava um prédio de uns sete andares, pronto e habitado! Não há duvida que tudo agora é construído a uma velocidade estonteante!
Uma carrinha branca imobilizou-se ao pé do edifício e descarregou dois fardos de jornais, antes de arrancar em grande velocidade. Estranhou a distribuição do jornal tão tardia, normalmente acontecia de madrugada. Está tudo tão diferente… ainda se recordava do sinaleiro, luvas e capacete branco a gerir o transito naquela esquina, antes da sua substituição pelo semáforo, que empoleiraram muito alto, mesmo no meio do cruzamento. Não foi assim há muito tempo… mas também o semáforo lá não está, foi substituído por um conjunto de colunas, cada esquina sua, com o seu próprio conjunto de luzes… de certeza que fora feito para a autarquia ajudar a enriquecer um qualquer fabricante amigo. Sorriu com a sua própria “má língua”.
- Bom dia! - A voz masculina sobressaltou-o, fazendo-o descobrir a seu lado o jovem polícia que o mirava com curiosidade.
- Boa tarde! - Corrigiu-o.
- O senhor está bem? - O agente perguntou.
- Eu? Sim, estou! E você? - Ele não estava a perceber a razão da abordagem.
- Eu também estou, obrigado! - O polícia endireitou-se com um sorriso e afastou-se, num passo curto para a berma da rua. Pegou no telemóvel e fez uma chamada.
Ele olhou de lado para o agente que regressava, sempre sorridente.
- Posso perguntar-lhe o seu nome? - O jovem voltava à carga.
- Posso saber porquê? - Respondeu na defensiva. - E o seu, qual é?
- Peço desculpa pela minha falta de maneiras. - A boa educação do polícia começava a ser irritante. - Meu nome é Meireles!
- E eu sou obrigado a dizer-lhe o meu? - Agora estava a ser deliberadamente insolente.
- Não, claro que não. Não está a fazer nada de mal. - O jovem exibiu um rosto triste. - Era simples curiosidade.
- A minha mãe dizia que a curiosidade matou o gato! - Atirou com um ar de triunfo, voltando o rosto para o lado, indicando que acabara ali a conversa. - Tenha uma boa tarde!
- Um bom dia, quer o senhor dizer! - O rapaz era insistente. - Ainda é de madrugada, o sol está a nascer agora. - Apontou para as silhuetas dos prédios onde um clarão parecia querer sobrepor-se às trevas.
- Madrugada? - O rosto dele tornou-se uma máscara de espanto, a que horas saíra de casa? Quanto tempo caminhara? De onde viera?
Um pequeno Opel Corsa parou bruscamente ao lado do passeio onde os dois se encontraram. Outro jovem, este à civil, correu para eles e olhou-o nos olhos, preocupado.
Já eram dois de volta dele, que estava naquele estado de confusão… começava a ficar assustado, quando o recém chegado disse finalmente, numa voz estrangulada:
- Pai! Graças a Deus! Andamos a noite inteira à tua procura!
Deixou-se ficar um pouco a restaurar as energias… noutros tempos, achava ele que não há muito, faria todo aquele percurso a correr e quase sem transpirar, mas agora… como se pusera naquele estado?
Olhou com curiosidade os sapatos de quarto, empoeirados, como se os visse pela primeira vez; os seus pés estavam “gordos” e o calçado parecia querer rebentar. Não admira que estivesse cansado! A arrastar umas “patas” daquelas… Tinha que fazer um regime, pensou de si para si, recuperar a forma, só pode ser pelas banhas, olha só que “patas”, tornou.
Recostou-se e esticou preguiçosamente os braços pelas costas do banco, enquanto apreciava o trânsito barulhento e apressado.
O seu olhar fixou-se no enorme edifício na esquina. Não se recordava de ter sido derrubada a padaria e já lá estava um prédio de uns sete andares, pronto e habitado! Não há duvida que tudo agora é construído a uma velocidade estonteante!
Uma carrinha branca imobilizou-se ao pé do edifício e descarregou dois fardos de jornais, antes de arrancar em grande velocidade. Estranhou a distribuição do jornal tão tardia, normalmente acontecia de madrugada. Está tudo tão diferente… ainda se recordava do sinaleiro, luvas e capacete branco a gerir o transito naquela esquina, antes da sua substituição pelo semáforo, que empoleiraram muito alto, mesmo no meio do cruzamento. Não foi assim há muito tempo… mas também o semáforo lá não está, foi substituído por um conjunto de colunas, cada esquina sua, com o seu próprio conjunto de luzes… de certeza que fora feito para a autarquia ajudar a enriquecer um qualquer fabricante amigo. Sorriu com a sua própria “má língua”.
- Bom dia! - A voz masculina sobressaltou-o, fazendo-o descobrir a seu lado o jovem polícia que o mirava com curiosidade.
- Boa tarde! - Corrigiu-o.
- O senhor está bem? - O agente perguntou.
- Eu? Sim, estou! E você? - Ele não estava a perceber a razão da abordagem.
- Eu também estou, obrigado! - O polícia endireitou-se com um sorriso e afastou-se, num passo curto para a berma da rua. Pegou no telemóvel e fez uma chamada.
Ele olhou de lado para o agente que regressava, sempre sorridente.
- Posso perguntar-lhe o seu nome? - O jovem voltava à carga.
- Posso saber porquê? - Respondeu na defensiva. - E o seu, qual é?
- Peço desculpa pela minha falta de maneiras. - A boa educação do polícia começava a ser irritante. - Meu nome é Meireles!
- E eu sou obrigado a dizer-lhe o meu? - Agora estava a ser deliberadamente insolente.
- Não, claro que não. Não está a fazer nada de mal. - O jovem exibiu um rosto triste. - Era simples curiosidade.
- A minha mãe dizia que a curiosidade matou o gato! - Atirou com um ar de triunfo, voltando o rosto para o lado, indicando que acabara ali a conversa. - Tenha uma boa tarde!
- Um bom dia, quer o senhor dizer! - O rapaz era insistente. - Ainda é de madrugada, o sol está a nascer agora. - Apontou para as silhuetas dos prédios onde um clarão parecia querer sobrepor-se às trevas.
- Madrugada? - O rosto dele tornou-se uma máscara de espanto, a que horas saíra de casa? Quanto tempo caminhara? De onde viera?
Um pequeno Opel Corsa parou bruscamente ao lado do passeio onde os dois se encontraram. Outro jovem, este à civil, correu para eles e olhou-o nos olhos, preocupado.
Já eram dois de volta dele, que estava naquele estado de confusão… começava a ficar assustado, quando o recém chegado disse finalmente, numa voz estrangulada:
- Pai! Graças a Deus! Andamos a noite inteira à tua procura!
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