segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Começar de novo

Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.




O veículo preto de alta cilindrada abandonou a autoestrada e abordou a via secundária, quase sem perder velocidade. Ao volante, Simão olhava, de minuto a minuto, para o relógio do tablier que lhe dizia que estava atrasado.
Os seus mais de quarenta anos não tinham feito muitos estragos no rosto pálido, apenas acinzentado na área da barba. Fios de prata espalhavam-se, aqui e ali, pelo cabelo curto castanho. Os inseparáveis óculos escuros emprestavam-lhe um ar distante, mas ao mesmo tempo concentrado na condução.
Conduzia veloz pela estrada estreita, ultrapassando os veículos mais lentos, sempre que possível. O vento que entrava pela janela aberta refrescava-lhe o rosto, fazendo-o sentir-se mais calmo.
Por fim chegou ao seu destino.
Percorreu, perdendo velocidade, a avenida que conduzia à praia, até parar ao lado do Mercedes cinza escuro que estava estacionado.
Abriu o vidro do passageiro e sorriu para a condutora - uma mulher aproximadamente da mesma idade, atraente, de cabelo castanho claro e rosto moreno - antes de, lentamente, retomar a marcha e estacionar mais à frente.
Caminhou, em passos largos, para junto da mulher que já o esperava ao pé da sua própria viatura.
-        Sara, minha querida, há tanto tempo! – Foi numa pose estudada que a envolveu num abraço pela cintura, enquanto lhe procurava os lábios para um beijo.
Como se já esperasse, ela rodou o rosto expondo a face ao beijo, mas deixou-se envolver.
-        Simão, estás na mesma, os anos não te pesaram… nem te alteraram as maneiras.
-        Ai não que não pesam! – Continuou abraçado a ela de rosto muito próximo. – Cada dia que passa é mais difícil ser eu. – Brincou divertido. – Tu sim, cada dia que passa estás mais bonita e esse ar de mulher madura cai-te como uma luva.
Sorrindo, Sara rodou, suavemente, para fora do abraço e segurou-o pelas mãos. Frente a frente, tentava ver-lhe os olhos através das lentes escuras:
-        A verdade é que também tinha saudades tuas, mas, não sei se foi boa ideia marcar encontro aqui no mesmo sítio onde nos encontrávamos há mais de dez anos atrás.
-        Não imaginas a minha alegria, quando vi a tua foto no Facebook. Não queria acreditar que eras tu. Tantos anos sem notícias… Porque não falaste?
-        Digamos que não nos separamos os melhores amigos deste mundo. – O rosto dela tornou-se sério. - Portaste-te muito mal comigo, a última coisa que queria era ver-te... ou ouvir-te.
-        E agora? Já me perdoaste? – Os lábios desapareceram numa linha horizontal fina. – Depois de tanto tempo?
-        Digamos que… aconteceu muita coisa, passou-se realmente muito tempo… digamos que não quero falar nisso.
Um abraço caloroso e um sorriso enorme foi a resposta dele.
-        Calma, calma! – Ela ria, enquanto se libertava do abraço. – Eu não disse “’Tá tudo bem e vamos começar onde terminamos”. Apenas disse que não valia a pena falar no assunto.
-        Não? – Ensaiou uma expressão que era um misto de incredulidade e desfaçatez. – Não custou muito a convencer-te deste encontro.
-        Já te disse que também tinha saudades tuas. Não vou dizer mais nada a esse teu ego insuportável. – Brincou, voltando-lhe as costas e caminhando na direção da esplanada mais próxima. – Vamos ficar aqui a provocar-nos um ao outro no meio da rua?
Dirigiram-se para a esplanada mais próxima, enquanto recordavam episódios engraçados passados naquele local.
O riso dela encheu o ar, trazendo-lhe à memória tantas recordações.
Há dez anos estavam noivos e ele estava completamente apaixonado.
O cabelo claro e curto, os olhos cor de amêndoa e as pequenas rugas que se formavam em volta deles quando ria, emprestavam um ar de miúda a planear, permanentemente, a próxima traquinice. A sua alegria e o seu riso contagiante atraíam-no, como a traça é atraída pela luz. A personalidade cinzenta e calma dele precisava desesperadamente daquele brilho e de toda aquela vida. Necessitava senti-la por perto, ouvi-la rir ainda que não fosse com ele, ouvi-la falar ainda que não para ele.
Mas eram para ele os risos e eram dele as carícias e os beijos que ela dava. Eram felizes e iam casar em breve.
Ele, divorciado há alguns anos, vivia sozinho num apartamento próximo do centro da cidade e ela, que se foi deixando encantar durante cinco anos, vivia com os pais numa casa nos arredores.
Não havia um interesse muito grande, da parte dele, no casamento, mas foi uma evolução mais ou menos provocada pela pressão dos pais dela e pelo passar dos anos. Sentindo-se já nos trinta, Sara achava que o tempo estava a passar demasiado depressa sem que nada acontecesse. Simão, por seu lado, estava comodamente a apreciar a sua segunda vida de solteiro com todas as coisas boas que isso pode trazer.
Por fim, acabaram por marcar a data do casamento e foi quando faltavam apenas dois meses  que o escândalo se deu; uma colega de trabalho de Simão deu-se a conhecer e revelou que mantinha encontros regulares com ele e, inclusivamente, já tinha passado várias noites no apartamento.
De nada adiantou ele pedir-lhe desculpa e dizer que já era história do passado e que só a ela, Sara, ele tinha pedido em casamento e que isso tinha que valer alguma coisa.
Sara foi irredutível, até porque sabia bem que o primeiro casamento dele também se tinha desfeito por um caso de infidelidade... com ela.
Simão não conseguia  viver uma simples relação a dois. Para ele, a vida não eram duas linhas retas paralelas, mas sim três, ou mais, entrelaçadas.
Claro que estas “psicologias” baratas não ocupavam o seu pensamento; ele não conseguia (nem tentava) justificar para si próprio o seu comportamento, até porque  não procurava os “problemas”, eles pareciam atravessar-se-lhe no caminho.
Agora, dez anos depois, esperava estar mais preparado para ter uma vida normal.
A conversa acabou por retornar ao assunto que os levou à separação:
-        Ainda não te perdoei o que fizeste. - Sara tornou-se séria.
-        No entanto estás aqui...
-        Sim. Também eu passei por um casamento que não deu certo e, desta vez, quem ia cometendo a traição era eu. Por isso, acho que compreendo um pouco toda a envolvência que pode levar a deixar entrar uma segunda pessoa na nossa intimidade.
-        Sério? - O sorriso tinha desaparecido dos seus lábios e ela sentia o olhar insistente, por trás das lentes escuras.
-        Não penses que aceito a ideia! - Retorquiu rapidamente. – Apenas compreendo os caminhos que podem levar a isso.
-        Nunca vou perceber esses teus ciúmes. Foi por eu ter optado  ficar contigo que acabei o casamento com a Luísa.
-        Não. -  Corrigiu ela. – Foi por andares comigo que o teu casamento  acabou. Quando já não foi possível esconder mais.
-        Essa é a tua maneira de ver as coisas. Eu poderia ter salvo o casamento, se não quisesse ficar contigo... bastava dizer que tu eras simplesmente uma distração e não a mulher da minha vida, como disse.
-        O que lhe disseste não sei... Sei o que me disseste quando sucedeu a Mariana e não me convenceste.
Enquanto o empregado trouxe os pedidos, fez-se um silêncio comprometedor que se prolongou após a sua saída.
-        Mas precisamos de voltar a bater na mesma tecla? - Perguntou, ele, tentando evitar o assunto.
-        Nunca vamos poder evitar  falar de uma pedra gigantesca a pesar na nossa relação. - Sara estava irredutível.
-        E que queres fazer a esse respeito?
-        Não consigo entender essa dualidade constante. Tens uma mulher e arranjas outra; e quando terminas com uma é só para encontrar uma outra... porquê? O que te impele a isso? Não estavas feliz comigo? Não vivíamos juntos, apenas porque não querias; querias manter o apartamento disponível para a outra... ou outras, sei lá!
-        Que te posso dizer? Felicidade?... Amor?... Eu amo-te, sempre te amei; ok, também amei a Luísa em seu devido tempo, casei com ela não foi? Já a Mariana era apenas alguém que, como eu, gostava de passar algum tempo bem passado .
-        É isso que tu achas? Achas que para ela era isso também?
-        Que sabes tu? - A voz dele perdeu intensidade. - Nunca a enganei. Ela sabia que estava noivo de ti e que íamos casar. Sabia que, entre mim e ela, nada mais havia, do que duas pessoas que se completavam na cama.
-        Não sentias nada por ela?
-        Sentir? Claro que sentia. Sentia muito carinho, quase se pode chamar amor, não era sexo gratuito. Com os homens não funciona como com as mulheres, que basta abrir as pernas e fechar os olhos.
-        Agora estás a ser grosseiro, propositadamente.
-        É verdade! Tenho de  amar uma mulher para poder fazer amor com ela.
-        Amar? Esse teu coração é demasiado grande! - Ela não conseguiu suster um sorriso.
-        O meu coração? - Ele tirou os óculos para  poder olhá-la nos olhos. – O meu coração é como uma catedral gótica; uma nave sombria e imensa com muitas capelas dedicadas cada uma a seu santo. Mas só um altar-mor dedicado ao verdadeiro amor, a ti.
-        Tu és mesmo impossível! - Soltou uma gargalhada divertida. - Como é que podemos reatar com essa tua atitude? –Perguntou, parando de rir e passando-lhe, carinhosamente, a mão pelo rosto.
-        Tentando. - Segurou-lhe a mão e beijou-lhe a palma durante uns segundos, mais que os necessários, antes dela a recolher rapidamente.
-        Não sei... Sinto que ainda me vais fazer sofrer muito...
-        A minha intenção nunca foi fazer-te sofrer... mas tens de  compreender que na vida não há finais do estilo: “E viveram felizes para sempre”. O gajo que inventou essa frase devia ser chicoteado por induzir as crianças na busca de algo que não existe.
-        Claro que eu sei.
-        A relações são como a vida; cheias de altos e baixos, interferências, inerências e ingerências. Múltiplos caminhos e outras tantas decisões. Mas, principalmente, sem o final feliz que tantas vezes se nos mete na cabeça.
-        Eh..,, o que para aí vai!... Tanta filosofia!
Ele pegou-lhe nas mãos e manteve-as entre as suas, enquanto continuava:
-        O amor é que é, ou não,  forte para sobreviver às adversidades e perdoar as faltas. Dizes que não me perdoaste, mas o teu amor é tão forte como o meu e já perdoaste a minha falta como eu já perdoei, desde o primeiro dia, tudo o que me disseste. - Concluiu beijando-lhe as mãos.
-        Sim, se calhar perdoei, mas não me esquecerei nunca.
-        Ok, com isso eu posso viver.
-         
O som do riso na voz dele era algo que ela adorava ouvir.  Fechou os olhos, por uns segundos, apreciando aqueles momentos e saboreando o calor do sol no rosto... quando sentiu os lábios dele sobre os seus.
Não resistiu e entregou-se ao beijo. Àquele beijo que a devorava, cheio de promessas e desejo, e de que ela tinha tantas saudades.
Deixaram o dinheiro em cima da mesa e caminharam, de mãos dadas, para o areal.
Apreciaram o sol e conversaram, durante algum tempo, sobre o tempo  em que estiveram afastados.  Já os últimos raios de sol tentavam, em vão, romper do mar quando voltaram ao tempo presente.
Estavam ambos felicíssimos e  Simão, tomando-lhe o rosto entre as mãos, convidou:
-        Sabes onde vamos jantar? Ao “Perna de Porco”. Lembras-te do velho João? De vez em quando, ainda me pergunta por ti. Vamos fazer-lhe uma surpresa e aparecer por lá.
-        Vamos! - Sara sorriu ao recordar o velho e carinhoso empregado do restaurante, que os tratava tão bem e ficava muito contente quando os via.
-        Vens no meu carro e, depois, vimos buscar o teu?
-        Não, não! Não quero deixar aqui o carro. Eu vou lá ter.
De mão dada, como duas crianças, correram para os veículos. Ao passar junto do seu, Simão brincou apontando a matrícula:
-        Vês?  Até a chapa do carro diz que estamos destinados; 01-SS-04, ou seja, “Primeiro Simão e Sara desde 2004” que foi o ano em que nos conhecemos.
Ambos deram uma gargalhada. De seguida Sara dirigiu-se para o seu veículo e Simão arrancou primeiro, em grande velocidade.
Tomou a estrada que conduzia ao centro da cidade e afastou-se, rapidamente, da praia.
No primeiro semáforo em que parou, pegou o telemóvel e começou a digitar um número. O sinal verde indicou que poderia prosseguir a marcha e, de telefone no ouvido, arrancou enquanto aguardava que o atendessem.
Sara, na sua viatura, atendeu a chamada com o sistema de alta-voz:
-        Sim? Algum problema?
-        Não, não há problema nenhum. - O sorriso de Simão era percetível na sua voz. – Eu é que não sei mais o que te dizer para te mostrar como estou feliz.
-        Não precisas de dizer nada. – Ela também sorriu, enquanto parava para dar espaço a um carro que estacionava, antes de continuar. - Eu também estou muito feliz.
-        Mas é que  quase me parece mentira... – Lutou com o telemóvel para o manter entre o ouvido e o ombro. –... depois de tanto tempo.
-        Vá, deita atenção ao que estás a fazer e já falamos. - Ela sorria enquanto desligava.
-        Mas espera, ouve... - o telemóvel escorregou, caiu sobre o assento do passageiro e ressaltou para o chão do automóvel. Ele baixou-se para o apanhar.
Sara sempre foi muito cautelosa a conduzir, respeitando a sinalização e as distâncias de segurança; por isso, conseguiu parar a tempo, evitando bater no veículo que seguia à sua frente quando este parou bruscamente.
Conseguia ver, para a frente dele, a fila de automóveis parados. Um engarrafamento, mesmo o que precisava.
Esperou, pacientemente, mais de vinte minutos e depois ligou a Simão.
O telemóvel chamava e ninguém atendia. “Ficou sem bateria, queres ver?” comentou para si.
Os vinte minutos transformaram-se em quarenta e depois numa hora. Simão não atendia. “Se ficou sem bateria vai ficar cansado de esperar... vai achar que desisti.” Estava a começar a ficar preocupada. “Até pode estar aqui nesta fila, também.”
Ia sair do automóvel para ver se o via, quando os veículos começaram a movimentar-se;  ela prendeu o cinto e retomou a marcha.
Cerca de um quilómetro à frente, ao chegar a um cruzamento, um polícia estava a encaminhar o trânsito pedindo celeridade. O chão estava cheio de vidros e, ao acabar de atravessar o cruzamento, viu o para-choques frontal de um veículo preto encostado na borda do passeio. A matrícula estava perfeitamente legível: 01-SS-04.
Parou imediatamente à frente e foi intercetada por uma mulher polícia quando saiu do carro:
-        Pare! Volte para a viatura, não pode parar aqui!
-        Não posso, foi o carro do meu namorado, onde está ele? - Ao mesmo tempo conseguiu ver, do outro lado da rua em cima do passeio, o veículo de Simão com a frente toda destruída. - Onde está ele? Onde está o Simão?
-        O condutor daquele automóvel foi transportado para o hospital.
-        Estava muito ferido? -  Faltava-lhe o ar e sentia-se como que às voltas num  carrossel.
-        Não sei, não vi. Quando cheguei, já estava dentro da ambulância. - A agente sentiu-se comovida com a expressão de angústia e os olhos rasos de lágrimas. – Agora, por favor, retire daqui a viatura.
Sem dar resposta e com  as pernas a tremer, sentou-se ao volante arrancando, rapidamente, para o espaço que a polícia lhe designou, na fila de trânsito.
Chegada ao hospital, correu para a receção da urgência e, muito nervosa e  hesitante, pediu informações. Após uns segundos, a funcionária informou:
-        O senhor Simão Andrade está neste momento a dar entrada no bloco operatório. É familiar?
-        Quê? - Tudo o  que ela lhe dizia chegava de muito longe e estava com muita dificuldade em perceber. - Não, não, sou uma amiga. Ele está muito mal?
-        Não lhe sei responder. Essa informação terá que ser dada pelo médico. Aguarde na sala de espera, por favor, senhora... - A rececionista procurava olhá-la nos olhos.
-        Sim, eu aguardo. Depois dizem-me  alguma coisa?
-        Eu ainda vou estar mais três horas de serviço; enquanto eu estiver aqui, vou perguntando e se houver novidades informo... senhora...? Não ouvi o seu nome. - A jovem insistiu.
-        Sara Ferreira. - Ela enfrentou, finalmente, o olhar curioso da rececionista. - Obrigada. Vou estar ali, naquele banco.
Durante cerca de uma hora, Sara assistiu ao entrar e sair de doentes e acompanhantes, espreitando, de quando em vez, a rececionista que parecia absorta no seu trabalho.
De repente, entrou esbaforida uma jovem de longos cabelos ruivos, que se dirigiu à rececionista com quem trocou algumas palavras agitadas. De seguida, ambas se voltaram na direção dela e a recém-chegada aproximou-se:
-        Boa tarde. - A voz era suave e cautelosa – É amiga do Simão? Estava com ele no carro?
-        Não. Realmente não estava. – Respondeu, após uns segundos de hesitação. - Vinha a passar e reconheci o carro acidentado. Depois disseram-me que o tinham trazido para aqui.
-        Ah!... Estou a ver. - A jovem parecia aliviada e estendeu a mão. – Desculpe, não me apresentei, sou Sofia, a noiva do Simão.
-        Noiva? Ah!... percebo. - Esperava que a sua desilusão não fosse muito óbvia. - Não sabia que ele estava noivo... mas também não o vejo há muito tempo... já agora, chamo-me Sara.
-        Na verdade, só estamos noivos há cerca de um mês, mas namoramos há dois anos.
Criou-se um silêncio comprometedor, enquanto Sara analisava a jovem sem saber muito bem o que lhe dizer.
-        Ali a minha irmã, - Continuou, indicando a rececionista com o queixo – avisou-me mal reconheceu o nome dele e depois disse-me que estava aqui uma amiga também...- Olhou-a nos olhos. – Simão sempre teve um gosto excelente para as amigas... todas muito bonitas.
Voltaram a ficar ambas em silêncio, cotovelos pousados sobre os joelhos, olhando o chão.
Por fim, a rececionista chegou ao pé delas:
-        Sofia, acabei de saber, ele saiu do bloco e está bem. Teve uma perfuração de pulmão, mas está tratado e livre de perigo. Já está no recobro. Queres ir vê-lo?
Ambas se ergueram de um salto e miraram-se, mutuamente, por uns segundos:
-        Vamos vê-lo? -  Convidou Sofia, com um sorriso tímido.
Sara continuou a fitá-la e não conseguiu deixar de corresponder ao sorriso:
-        Não... acho que não. Obrigada. Basta-me saber que está bem... e em boa companhia. Agora já posso ir embora.
-        Mas não quer mesmo vê-lo? Falar-lhe?
-        Não. Uma vez mais, obrigada.
-        Mas... quer que lhe diga alguma coisa? Que lhe diga que esteve cá a saber dele?
Sara fez um sorriso triste e respondeu:
-        Diga-lhe apenas que ele tem razão. Não há finais felizes.
Dito isto, voltou as costas às duas jovens e afastou-se num passo ritmado, decidido e firme.
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3 comments:

Força da Natureza disse...

Gosto muito deste tipo de contos, em que a narrativa nos faz literalmente sentir parte da história...
..."Para ele, a vida não eram duas linhas retas paralelas, mas sim três, ou mais, entrelaçadas."

..." A relações são como a vida; cheias de altos e baixos, interferências, inerências e ingerências. Múltiplos caminhos e outras tantas decisões. Mas, principalmente, sem o final feliz que tantas vezes se nos mete na cabeça."

Gostei muito!

LMML.

redonda disse...

Gostei.

redonda disse...

E aqui decididamente também não temos um final feliz...

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