Apresentação do livro “Almas Feridas” de Suzete Fraga
11 de Dezembro de 2016
Póvoa do Lanhoso
Introdução
É com muita alegria que estou aqui, neste evento, neste local fantástico, cheio de história, aquecido pelo carinho dos amigos e suportada pelas mais diversas instituições… não há dúvidas que a Suzete é mesmo uma mulher afortunada.
É por isso também, pelo amor a esta nossa amiga, que aqui estou neste espaço recheado de história e também de arte. Vejam-se estes jovens intérpretes musicais fantásticos, a pintura do meu lado direito e as letras do lado esquerdo… quase me sinto um penetra nesta sala.
Agora, depois de ouvir o meu amigo Daniel a tecer-me tantos elogios, sinto-me um pouco envergonhado por não ter a sua capacidade de improviso e precisar de um papel para ler umas poucas palavras sobre a minha amiga Suzete Fraga.
A autora Suzete Fraga
“As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos impossíveis. Têm o ar de quem pertence a si própria.
Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas.
Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer.”
Miguel Esteves Cardoso
Este pequeno excerto de um texto de Miguel Esteves Cardoso respeitante ao Norte de Portugal, assenta como uma luva na minha amiga Suzete, que penso estar a viver hoje um dos dias mais felizes da sua vida. O lançamento de um livro, deve ter o mesmo sabor que receber nos braços o filho acabado de nascer. E ela já pode falar destes dois casos por experiência própria.
Desde os nossos primeiros contactos, via Facebook, que parece ser o método natural de se conhecer as pessoas nos nossos dias, se gerou entre nós uma empatia e uma amizade que parece velha de anos. Filha do Minho, esta vimaranense tem o coração perto da boca e as suas palavras são sempre ditas com uma paixão contagiante, própria de quem acredita em si e nas suas capacidades. Põe todo o seu ser em tudo o que faz e por isso estamos aqui hoje a celebrar o lançamento do primeiro livro daquela a quem, com muito orgulho, chamo “irmã das letras”. Se por um lado ela se tornou admiradora dos meus trabalhos e não perde um livro nem um lançamento, por outro lado, a leitura de alguns dos seus escritos deixaram-me ansiando por este momento, onde finalmente deixaria que o mundo espreitasse sobre o seu ombro para ver a qualidade dos textos que saem da sua fértil imaginação.
Entre as várias coisas que sobressaem na escrita da Suzete, estão a forma como consegue fazer-nos sentir e reconhecer coisas do nosso dia-a-dia, às quais não deitamos importância, mas que fazem parte de nós e da “música de fundo” que acompanha o filme da nossa vida. No seu conto “Invisibilidade”, merecidamente escolhido para a coletânea “Caprichos e Virtudes” descreve aquela pessoa com quem nos cruzamos todos os dias, mas fingimos, ou não vemos de todo. Vou citar um pequeno excerto: “o seu passo apressado, engolia a solidão das bermas enquanto camuflava a própria solitude. Palmilhava as ruas da aldeia num incessante vaivém. Depois, a noite caía e só na madrugada seguinte voltaria a ser vista. Nunca ninguém lhe dedicava uns míseros minutos, a menos que precisassem de algum favor. Nunca lhe perguntavam como estava. Não fosse o barulho dos seus passos e seria completamente invisível”.
Os seus personagens são multifacetados e tão diferentes uns dos outros, como se dos diversos heterónimos de Pessoa se tratassem. Noutro dos seus contos, a protagonista é tão supereficiente como supertrapalhona e especialista em arranjar “bodes espiatórios” quando não consegue executar uma tarefa, que diga-se de sua justiça não lhe foi entregue atempadamente. Num outro, a triste realidade da violência doméstica é cruamente representada e a submissa esposa, alvo sucessivos anos de maus tratos e acusações infundadas, enche-se de coragem e toma finalmente uma atitude. Noutro ainda, uma jovem, vítima do assédio de um professor da “velha guarda” que agride os alunos e foi responsável pela desgraça de vários dos antigos pupilos, descarrega acusações e “cospe” o seu desprezo, numa carta cheia de palavras duras.
Todos estes trabalhos estão repletos de figuras de estilo e descrições de sentimentos capazes de nos fazer viver tudo o que os seus personagens sentem.
É a sensibilidade na observação destes pormenores e a forma como são descritos, que me fez perceber estar perante um sério caso de sucesso e prever que o “nascimento” do seu primeiro livro seria apenas uma questão de tempo e, principalmente, que este livro será apenas o primeiro, pois outros o seguirão.
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