Rua da Mainça e a escola Dr. Francisco Godinho de Faria em São Mamede de Infesta (possivelmente década de 1980) |
Há uns dias, a remexer em livros antigos, (coisas do confinamento) deparei com a minha primeira "distinção literária", o que me trouxe à memória um conjunto de recordações da infância em São Mamede de Infesta, onde nasci e me criei.
Assim que terminei os quatro anos da Escola Primária, ingressei no 1º ano do Ensino Preparatório, numa escola acabada de construir, no lugar da Mainça. Corria o ano de 1975 e a Revolução dos Cravos, que alterou a forma de viver e pensar dos portugueses, tinha acontecido há apenas um ano.
A Escola Preparatória Dr. Francisco Godinho de Faria, estava destinada a ser apenas do ciclo preparatório (1º e 2º anos), mas acabou por, mais tarde, incluir todo o ensino até ao 9º de escolaridade do Ensino Unificado, ou 5º do secundário. Era um conjunto de edifícios pré-fabricados instalados nos socalcos do terreno, numa encosta que descia das traseiras das casas da Avenida da Pedra Verde, a zona “chique” da freguesia.
Demorava cerca de meia hora a pé para chegar à escola, desde a minha casa na rua Henrique Bravo, próximo da rua das Laranjeiras. O dinheiro não era muito e se pudéssemos poupar o bilhete do autocarro, era muito bom… A revolução de Abril tinha trazido liberdade, mas pouca prosperidade e, se antes o meu pai não tinha benefícios sociais porque era patrão, agora, além de continuar a não os ter, era odiado, porque a febre comunista ditava que todos os patrões eram maus… mesmo aqueles que, por vezes, não conseguiam trazer o ordenado inteiro, para ter com que pagar o dos funcionários. Para nós, crianças, isso era pouco significativo, a caminhada para a escola era uma forma de conversar e brincar com os companheiros que se nos iam reunindo no trajecto.
Foi nessa escola que tive a honra de conhecer grandes professores de História, como a Nídia Maria e a mais famosa de todas, Maria Manuela Moreira de Sá, que mais tarde daria o seu nome à escola, que foi a sucessora dessa onde eu estudava na altura.
Destinada a ser de carácter temporário, desde a sua inauguração em 1974, até aos últimos meses de 1991, foram dezassete anos de crianças formadas num ambiente único que ainda hoje me deixa muitas saudades. Os seus pavilhões prefabricados, aqui e ali, nos diversos socalcos do terreno, os taludes que serviam de escorrega e que nos sujavam as roupas, as escadas de cimento, percorridas em velocidade pela criançada. A toda a volta, os muros feitos de placas de betão e, por recreio, o enorme campo de jogos, que mais não era do que um terreiro, sem balizas sequer e que tinha, aqui e ali, grandes goelas provocadas pela chuva, que os miúdos aproveitavam como trincheiras para "jogar às pedradas" uns com os outros. A biblioteca onde, mais do que livros de estudo, muitos episódios do Luky Luke, do Asterix e do Tintin preencheram os meus tempos livres.
A escola foi demolida algures na década de noventa do século passado e tenho pena de não ter guardado um tempo para tirar umas fotografias a um pedaço da minha vida que desapareceu para sempre. A rua da Mainça, tem agora um aspeto diferente e urbano, não há multidões de crianças alegres e ruidosas a percorrê-la, mas é ainda vigiada pela capela de São Félix (à esquerda), que a atrás referida doutora Manuela Moreira de Sá, em conjunto com os seus alunos, nos quais eu estava incluído, foi responsável pela recuperação.
Mas não é para lembrar esses anos maravilhosos, que criei esta publicação, mas sim para falar do meu eterno gosto pela escrita. Desde que me lembro, que gosto de escrever e perdi durante a vida, muitas páginas de histórias, fruto da minha imaginação e poemas escritos às "mulheres da minha vida". Houve até um caso em que, em conjunto com uma amiga, fizemos uma história, que eram cartas imaginadas, que escrevíamos um ao outro... que delícia deviam ser agora, se as tivesse conservado.
Foi porém um outro acontecimento, que marcou a minha vida para sempre:
Um certo dia, a "stora" Teresa, de português, teve a ideia de fazer um pequeno concurso de escrita onde ofereceria um livro ao vencedor. Acabaram por ser, não um, mas três, os concursos, dada a alegria com que a pequenada abraçou a tarefa. Para minha desilusão, não fiquei em primeiro em nenhum deles. Nos três concursos, fiquei sempre em segundo ou terceiro, apesar de o primeiro lugar ter sido sempre ocupado por colegas diferentes. A professora achou que eu deveria ter direito a uma distinção também e no dia seguinte, presenteou-me com este livro, que aqui podem ver digitalizado.
Uma prenda com quarenta e três anos, de que muito me orgulho e guardo com muito carinho.
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