sábado, 2 de fevereiro de 2008

Divagando

Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.


A música toca continuamente.
As melodias de tom suave e palavras fortes, preenchem estas poucas horas de solidão e calma.
O resto do líquido dourado vibra no copo em sintonia com o debitar dos meus pensamentos sobre as teclas.
A voz forte e decidida do Cat Stevens entoa o poema Sitting que sempre me fascinou…
Também eu por vezes tenho dúvidas se estou no caminho certo.
Também eu temo adormecer por não saber se dormirei demais ou se acordarei o mesmo que era.
O meu companheiro ri-se trocista para mim de cima das suas botas de montar… Sob a cartola fora de moda.
Eu não deveria fazer-me acompanhar de tipos destes. Deveria recusa-lo imediatamente só pelo nome. Ainda por cima com o seu ar jovial e trocista… Johnny Walker, bolas.
Não pode ser companhia decente para um tipo como eu. Que é feito de nomes sóbrios como William Lawson ou dos imponentes como Glenlivett?
Sóbrios? Hmmm…
Decididamente não um Johnny Walker… Vê-se logo que soa a playboy sem qualquer vontade de tomar a vida a sério.
Pelo sim pelo não, torno a encher o cálice e saboreio o fogo que me corre pela garganta inflamando a minha alma dormente.
O mundo cinge-se ao copo que aperto entre os dedos e a musica que flutua em minha volta. Vê-se melhor sem dúvida através do fundo distorcido de um copo.
Também eu estou solitário mas não estou só e não preciso de abrir os olhos para ver. (continuo a tomar atenção à letra das músicas).
A vida é só um sonho afinal.
Todos os bons momentos da vida são anomalias e passam-se a uma velocidade irreal.
Sem mais nem menos tudo acaba ficando gravado na nossa memória com tanta intensidade que tudo o resto nos parece cinzento e sem graça.
A sensação de que pareceu um sonho acompanha-nos para sempre…
Lá está ele… Aquele maldito sorriso trocista… Emoldurado pelo rótulo negro, botas, pingalim, cartola e… o maldito do sorriso.
Mais um copo.vai ajudar-me a distrair desta presença insuportável.
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