sábado, 11 de setembro de 2010

Ocaso

Este texto é uma obra de ficção. Embora possa incluir referências a eventos históricos e figuras reais, a história, os diálogos e as interpretações são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.

As últimas horas do dia…
As ultimas horas daquele dia que, sendo igual a tantos outros, era diferente de todos.
Naquele dia esperei por ti.
Naquele dia enchi-me de coragem e convidei-te para saíres comigo.
Não consegui ver nos teus olhos se lá havia alegria ou tristeza, expectativa ou desilusão… Porque cada vez que os enfrento, perco-me no universo do teu olhar embalado por um sorriso que por vezes nem sei se está lá… mas que sinto.
Convidei-te, contendo a voz, aparentando segurança, derrubando meigamente as tuas débeis objecções. E insisti até que assentiste e eu, sorrindo, beijei-te a face suavemente sussurrando um trémulo até já.
Vim embora contendo os gritos de felicidade que me saltavam no peito e controlando minhas pernas que queriam saltar e dançar.
Naquele dia esperei horas infindas, sonhei cada momento que te encontrava e abraçava e desesperei cada segundo que não chegavas.
E as horas passaram-se. O astro rei percorreu o que lhe restava do céu e começava a mergulhar lentamente no horizonte envolto em ondas de luz encarnada… O céu, as nuvens, o mar, tudo decorado numa palete de tons laranja que tragava o sol lentamente.
E por segundos, por uns enormes segundos, frente aos meus olhos passaram velozes vários momentos dos teus olhares, dos teus sorrisos, do teu gargalhar contagiante… Mas foram apenas uns segundos antes de tudo ser apagado da minha cansada cabeça e o sol dar descanso aos meus olhos sem brilho, escondendo-se definitivamente para lá do mar.
Deixei-me ficar, embriagado de luz, olhos semi-fechados por detrás dos eternos óculos escuros e esquecido da dor. Por momentos.
E ali, naquelas ultimas horas do dia, convenci-me finalmente que não virias e uma lágrima rebelde correu livremente até o queixo pingando na areia ressequida.
A suave brisa do Norte fazia-se sentir já quando despertei do torpor que o ocaso provocou em mim. Começava a anoitecer naquele último dia de Verão em que tive coragem para te convidar para sair comigo.
Num gesto mecânico, sem vida, rodei na direcção do carro preparado para abandonar o palco daquele drama que me custava a suportar.
Foi então que te vi, cabelo solto, olhar maroto e sorriso triste, atrasada e desejada. Esperavas-me, vigiavas-me indecisa entre ficar e ir embora… Mas vieste.
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