domingo, 29 de setembro de 2024

Apresentação do livro "Almas Rebeldes" de Suzete Fraga

 



Boa tarde a todos,

 

Obrigado pela paciência que demonstram ao dispensar uns minutos, para escutar um maçador como eu, em vez de estarem a ler as “Almas Rebeldes” da Suzete Fraga.

Sabem como é costume dizer; “Não se deve julgar um livro pela capa?” Bem, no caso do livro da Suzete, é difícil não ser atraído pela bela e ilustrativa pintura da minha grande amiga Lucinda Maria, mas as páginas que ele contém são ainda mais encantadoras!

 É por isso com enorme prazer que estou aqui hoje, quase oito anos depois da apresentação de “Almas Feridas”, neste mesmo local, para falar sobre a Suzete Fraga e a sua mais recente obra, “Almas Rebeldes”. Todos nós que escrevemos e temos o privilégio de poder apresentar a nossa obra ao público, sabemos como é especial este dia para ela e para todos os que a conhecem e apreciam o seu talento.

 A escrita da Suzete é sempre cativante. Consegue descrever acontecimentos comuns do nosso quotidiano sob um ponto de vista que nos escapa, ou desprezamos, na maior parte das vezes. As emoções subjacentes nas palavras empregues e as imagens vívidas em cada frase, emocionam e desafiam, enquanto divertem com o humor que a caracteriza.

Quem é que consegue não se identificar com o personagem de “Iogurte com Açúcar”, que desliga o despertador pela manhã em vez de carregar no botão para pausar dez minutos e acontece o impensável:

“Confiante nos tais dez minutos, apressas-te a dormir num instante.

Executas tão bem a ideia, que adormeces a valer e até sonhas que estás a caminho do trabalho. Já estás no trabalho, mas o teu cérebro ainda está a tentar lembrar-se das tarefas do dia anterior e que tinham de ter seguimento agora. Tragédia das tragédias, sem café a máquina não funciona.

Nesse apelo à sobrevivência, sentes a baba a escorrer e ouves-te roncar com um entusiasmo estranhíssimo. Porque tu não roncas, os outros é que roncam forte e feio, parecem motas velhas a trabalhar no ralenti. O coração dispara na garganta, acelerado e, ao contrário do que é costume, avisa-te que o cérebro está errado. Há uma hora que te está a enganar, pois claro.”

 

Ou como não sentir pena em “A Impressora” da forma, ainda que levemente humorística, é apresentado o Natal de um solitário:

 “… talvez acabasse a tempo de passar pelo Mercado de Natal, deliciar-se com um churro de chocolate acabadinho de sair e regressar a casa para a massagem habitual ao comando da televisão. Pode parecer que não, mas estava em pulgas para ver pela milésima vez o “Sozinho em casa”. Iria comer camarão como se fosse dono da lota e misturar uma série de bebidas até perder a consciência. Quando acordasse, o Natal já teria terminado, já não haveria mais mensagens da treta para responder, o coma alcoólico seria geral e o sossego reinaria em todo o prédio.”

O livro “Almas Rebeldes” não é apenas mais um na carreira da Suzete Fraga, mas um degrau ascendente como escritora. Nele, encontramos personagens verdadeiros, ou no mínimo verosímeis, tramas envolventes e temas que ressoam profundamente com os dilemas da vida de gente comum, como nós.

A Suzete tece as suas histórias, com uma delicadeza única, mas, ao mesmo tempo, com uma força capaz de nos transformar, transporta-nos para outras realidades e faz-nos ver o mundo de diferentes ângulos. Mas, acima de tudo, faz-nos sentir o que é ser humano, com todas as suas complexidades, alegrias e dores.

 A sinopse desta obra, na contracapa do livro, é bem expressiva do que nos espera:

Quem nunca levou um tabefe e ousou dizer que não doeu, não sabe o que é correr pela vida, nem o gozo que daí advinha. No entanto, a vida é isto mesmo: dançar no fio da navalha e, mesmo desfeito, troçar das pancadas e ganhar asas nos pés.

Não podemos evitar as vicissitudes da vida, mas podemos encará-las com rebeldia e humor. É esse o segredo para equilibrar a balança que, por vezes, pende teimosamente para o lado cinzento. Cabe a cada um de nós contrariar o peso, rindo até da nossa pouca sorte, se for o caso. Quando se procura a conjuntura perfeita para sorrir, corre-se o risco de morrer sem estrear o sorriso. E essa seria a maior das derrotas.”

Parabéns, Suzete, que com muito orgulho chamo “irmã das letras”, pelo belo trabalho que aqui apresentas. O teu talento, aliado à sensibilidade e capacidade de observação e descrição continua a iluminar aqueles que gostam de ler, e estamos todos muito ansiosos pelo que ainda está por vir.

E para finalizar, se “Almas Rebeldes” tivesse apenas um defeito, seria o facto de acabar. Porque, honestamente, eu poderia ler as histórias da Suzete Fraga para sempre.





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