Boa tarde a todos,
Obrigado pela paciência que demonstram ao dispensar uns
minutos, para escutar um maçador como eu, em vez de estarem a ler as “Almas
Rebeldes” da Suzete Fraga.
Sabem como é costume dizer; “Não se deve julgar um livro pela capa?” Bem, no caso do livro da Suzete, é difícil não ser atraído pela bela e ilustrativa pintura da minha grande amiga Lucinda Maria, mas as páginas que ele contém são ainda mais encantadoras!
Quem é que consegue não se identificar com o personagem de
“Iogurte com Açúcar”, que desliga o despertador pela manhã em vez de carregar
no botão para pausar dez minutos e acontece o impensável:
“Confiante nos tais dez minutos, apressas-te a dormir num
instante.
Executas tão bem a ideia, que adormeces a valer e até
sonhas que estás a caminho do trabalho. Já estás no trabalho, mas o teu cérebro
ainda está a tentar lembrar-se das tarefas do dia anterior e que tinham de ter
seguimento agora. Tragédia das tragédias, sem café a máquina não funciona.
Nesse apelo à sobrevivência, sentes a baba a escorrer e
ouves-te roncar com um entusiasmo estranhíssimo. Porque tu não roncas, os
outros é que roncam forte e feio, parecem motas velhas a trabalhar no ralenti.
O coração dispara na garganta, acelerado e, ao contrário do que é costume,
avisa-te que o cérebro está errado. Há uma hora que te está a enganar, pois
claro.”
Ou como não sentir pena em “A Impressora” da forma, ainda
que levemente humorística, é apresentado o Natal de um solitário:
“… talvez acabasse
a tempo de passar pelo Mercado de Natal, deliciar-se com um churro de chocolate
acabadinho de sair e regressar a casa para a massagem habitual ao comando da
televisão. Pode parecer que não, mas estava em pulgas para ver pela milésima
vez o “Sozinho em casa”. Iria comer camarão como se fosse dono da lota e
misturar uma série de bebidas até perder a consciência. Quando acordasse, o
Natal já teria terminado, já não haveria mais mensagens da treta para
responder, o coma alcoólico seria geral e o sossego reinaria em todo o prédio.”
O livro “Almas Rebeldes” não é apenas mais um na carreira da Suzete Fraga, mas um degrau ascendente como escritora. Nele, encontramos personagens verdadeiros, ou no mínimo verosímeis, tramas envolventes e temas que ressoam profundamente com os dilemas da vida de gente comum, como nós.
A Suzete tece as suas histórias, com uma delicadeza única, mas, ao mesmo tempo, com uma força capaz de nos transformar, transporta-nos para outras realidades e faz-nos ver o mundo de diferentes ângulos. Mas, acima de tudo, faz-nos sentir o que é ser humano, com todas as suas complexidades, alegrias e dores.
“Quem nunca levou um tabefe e ousou dizer que não doeu,
não sabe o que é correr pela vida, nem o gozo que daí advinha. No entanto, a
vida é isto mesmo: dançar no fio da navalha e, mesmo desfeito, troçar das
pancadas e ganhar asas nos pés.
Não podemos evitar as vicissitudes da vida, mas podemos
encará-las com rebeldia e humor. É esse o segredo para equilibrar a balança
que, por vezes, pende teimosamente para o lado cinzento. Cabe a cada um de nós
contrariar o peso, rindo até da nossa pouca sorte, se for o caso. Quando se
procura a conjuntura perfeita para sorrir, corre-se o risco de morrer sem
estrear o sorriso. E essa seria a maior das derrotas.”
Parabéns, Suzete, que com muito orgulho chamo “irmã das letras”, pelo belo trabalho que aqui apresentas. O teu talento, aliado à sensibilidade e capacidade de observação e descrição continua a iluminar aqueles que gostam de ler, e estamos todos muito ansiosos pelo que ainda está por vir.
E para finalizar, se “Almas Rebeldes” tivesse apenas um defeito, seria o facto de acabar. Porque, honestamente, eu poderia ler as histórias da Suzete Fraga para sempre.